Sou uma Pessoa Antiga #44

Estes dias estava me lembrando de quando fiz dança de salão, de quando cantei num coral, de quando fiz aula de pintura a óleo… Não tenho nenhuma fotografia daquela época, então me resta apelar para a memória mesmo. E a memória falha. Como eu era? Qual roupa usava? Como era o lugar? Como eram as pessoas? Não lembro.

Amo fotografias. Para mim elas funcionam como uma extensão das nossas lembranças. Mas acho que os melhores momentos se passam longe das lentes. Por isso, apesar das câmeras digitais serem capazes de armazenar uma infinidade de fotos, eu gosto de fotografar somente o essencial. Me desconectar do visor e me conectar ao mundo a minha volta. Nestas horas quase me sinto uma pessoa antiga usando máquina de filme, hehe.

Percebo que as pessoas tem deixado de viver o momento pela ânsia de registrar. Não é difícil encontrar alguém fotografando compulsivamente os filhos, uma viagem, um show, um jantar, uma festa. Quando percebo lá estão elas, com suas câmeras, celulares e tablets, mais preocupados em gravar tudo. Já deixei de acompanhar alguns conhecidos na internet, que postavam fotos de TUDO. Se você olhasse o album rapidinho, era quase um filme em stop motion.

Lembro na Disney durante a inesquecível queima de fogos do castelo da Cinderela, e de um pai ao meu lado, grudado no celular. Gravando e assistindo tudo através do visor minusculo. Preocupadíssimo em manter o foco, centralizar a imagem, garantir o registro perfeito do vídeo (que duvido que tenha sido assistido mais de 2 vezes depois disso). Sem abraçar a família que estava ao lado. Sem absorver a magia. Sem viver o momento. Que tipo de lembranças ele vai carregar na memória além dele segurando a câmera pro alto por meia hora?

Eu posso não lembrar de todos os detalhes da dança de salão, nem do coral, nem das aulas de pintura a óleo. Mas o clima, os cheiros, o aprendizado, e de como eu me sentia fazendo aquilo tudo, eu me lembro. E isso fotografia nenhuma é capaz de captar.