O Caminho do Artista vale a pena?

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O verdadeiro caminho do artista não termina aqui.

Já faz umas semanas que terminei 'O Caminho do Artista', e acho que finalmente consigo falar sobre como foram estes três meses vivendo o livro!

Eu digo "viver o livro", porque é bem isso aí mesmo. Não é um livro para ser lido de cabo a rabo numa tarde preguiçosa de Domingo, é para ser digerido aos pouquinhos (e, se possível, com um grupo, para ter uma troca também).

O livro é dividido em uma estrutura de 12 capítulos, cada capítulo corresponde a uma semana, onde a autora explora algum tipo de bloqueio criativo, sejam pelas críticas, falta de apoio, falta de inspiração, falta de tempo, autossabotagem, pressão, inveja, medo, etc. Dependendo você se identifica mais com alguns capítulos do que com outros, e vai trabalhando estas dificuldades através das atividades que ela propõe. E se prepare, porque o que não falta são estas atividades! Pode ir reservando aí pelo menos uma meia hora do seu dia pra isso.

Alguns exercícios são bem interessantes e realmente nos colocam para refletir, como imaginar nossas versões alternativas, planejar uma realidade perfeita, ou escrever uma carta do futuro para o seu eu atual. Eles me ajudaram a me conhecer melhor, e estabelecer um objetivo, uma meta. Mas acho que o que mais fez diferença pra mim foram as páginas matinais.

Mesmo já escrevendo em diários desde os 11 anos, foi OUTRA experiência me comprometer a escrever três páginas à mão todo dia de manhã. É terapêutico escrever apenas tirando nossas reflexões do subconsciente, sem qualquer preocupação com julgamentos, planejamento e roteiro.

Mas… o livro também tem alguns lados negativos do meu ponto de vista:

O primeiro (e o que mais me incomodou logo de cara) é que a autora tem um tom desnecessariamente religioso as vezes, quase como se quisesse evangelizar o leitor. E mesmo ela deixando claro que temos a liberdade de não acreditar nisso, fica difícil quando esta visão pessoal acaba sobrepondo e norteando vários dos ensinamentos. Se ela faz tanta questão de misturar espiritualidade, podia ter feito de uma forma mais abstrata, genérica, sei lá. Sinceramente, eu me sentia até desrespeitada quando ela insistia: "Reexamine sua crença em Deus, você ainda não acredita no poder do Grande Criador? Você tem a mente aberta para alterar seu conceito de Deus?" Ai, que preguiça! 

O segundo é que pelo fato deste livro ter sido escrito em 1992, algumas tarefas ficaram bem datadas. Qual o sentido de privação de leitura em uma era onde o vício em internet é um problema sério? Por que ela não incluiu televisão, filmes e séries nesta restrição? Qual a justificativa científica para a privação de leitura em si? Eu quero entender!

Aliás, este é outro ponto negativo:

Eu senti falta de algumas explicações mais técnicas sobre determinadas tarefas e padrões de comportamento. Qual o fundamento cientifico / psicanalítico / filosófico para X ou Y? Ela chega a citar Jung algumas vezes, mas não se aprofunda. Talvez este realmente não fosse o foco dela.

Enfim, é importante ter em mente que a autora tem esta visão muito religiosa e privilegiada sobre a arte, mas assim mesmo o livro é muito bom no que se propõe. Não tenho dúvidas de que me ajudou a desbloquear muitas crenças negativas que eu tinha sobre mim, me ajudando a acreditar no meu potencial. Graças a este processo de autonhecimento, eu iniciei a minha pós graduação em Arteterapia e comecei a frequentar um grupo de Urban Sketchers em São Paulo!

Mas lembre-se que o verdadeiro caminho do artista não acaba com o fim do livro, a criatividade exige dedicação e manutenção constante. This is the way.

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